Conto Zen – A Natureza de cada um

Conto Budista:
” Monge e discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio.

Foi então a margem tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

– Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu:
– Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha. “

Resumo do “Discurso sobre o Método” de René Descartes


Por: André Luiz Avelino

Graduando em Filosofia – FFLCH – USP

Da necessidade de um método

A razão é igual em todos os homens, a diversidade de nossas opiniões não decorre de uns serem mais capazes de conhecerem a verdade do que outros, mas de conduzirem bem seus raciocínios, ao passo que outros os conduzem mal.

Consideração sobre as ciências

Ao terminar seus estudos, Descartes se vê repleto de dúvidas. Renuncia a procura da verdade nos livros e viaja para observar o mundo, o livro da vida. Mas, verifica uma grande diversidade e contradições nos costumes dos homens. Por fim, decide procurar a verdade em si mesmo.

Do método matemático à reflexão filosófica

Apenas os matemáticos encontrara algumas demonstrações, razões certas e evidentes, mas não possuíam um verdadeiro emprego a essas demonstrações, além dos utilizados na mecânica. Então, Descartes, corrigindo a lógica, a análise geométrica e a álgebra, uma pela outra, e reduzindo o número de preceitos, chega a um método composto por quatro regras:

1 – Receber escrupulosamente as informações, examinando sua racionalidade, aceitando apenas o indubitável, aquilo que se apresente de forma clara e distinta, o evidente;

2 – Dividir cada um dos problemas em exame em quantas partes forem necessárias (análise);

3 – Ordenar o que foi dividido partindo do mais simples, acrescendo por degraus de complexidade até o mais composto, supondo ordem entre aqueles que não procedam naturalmente uns dos outros (síntese);

4 – Enumerar e revisar de modo geral as conclusões, garantindo que nada seja omitido.

Descartes aplicou o método à geometria, resolvendo problemas, até o momento, insolúveis, então, certo de sua funcionalidade, o aplica a filosofia, que não possuía princípios que fossem certos.

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Empédocles

Empédocles 04

 

O mais extravagante dos primeiros filósofos da Itália grega foi Empédocles,  que surgiu na metade do século V. Nasceu em Acragas, cidade costeira ao sulda Sicília, atual Agrigento. O porto desta cidade foi batizado de Porto Empédocles, embora isto não seja um sinal de uma perene veneração ao filósofo, mas antes à paixão, no Risorgimento italiano, de rebatizar locais em homenagem às glórias passadas da Itália.

Empédocles nasceu em uma família aristocrática que possuía um haverás de cavalos premiados. Na política, todavia, possui a fama de ter sido um democrata, do qual se conta ter frustrado um plano para tornar a cidade uma ditadura. Conta a história que os agradecidos cidadãos quiseram fazê-lo rei, mas ele teria declinado do cargo, preferindo seu modo de vida frugal como médico e conselheiro (DL 8, 63). A sua ausência de ambição não era contudo sinal de falta de vaidade. Em um de seus poemas ele se jacta de que onde quer que vá homens e mulheres o pressionam em busca de aconselhamento e tratamento. Ele afirmava possuir drogas para retardar a velhice, além de conhecer alguns encantamentos para controlar o clima. No mesmo poema, de modo franco, ele diz ter alcançado a condição de divindade (DL 8, 66).

Muitas tradições bibliográficas, nem todas possíveis do ponto de vista cronológico, fazem de Empédocles em  

discípulo de Pitágoras, de Xenófanes e de Parmênides. É certo que ele imitou Parmênides ao escrever um poema em forma hexametral, “Sobre a natureza”. Este poema, dedicado a seu amigo Pausanias, continha cerca de duas mil linhas, das quais chegou até nós apenas uma quinta parte. Ele também escreveu um poema religioso, “Purificações”, do qual muito menos se preservou. Os estudiosos não chegaram a um consenso sobre a qual dos dois poemas devem ser agregadas a maior parte das citações dispersas que sobreviveram – alguns, na verdade, julgam que os dois poemas sejam fragmentos pertencentes a uma única obra. Peças adicionais desse quebra-cabeça textual foram recuperadas quando quarenta fragmentos de papiro foram identificados nos arquivos da Universidade de Estrasburgo em 1994. Como poeta, Empédocles era mais fluente que Parmênides, alem de mais versátil. Segundo Aristóteles, ele teria escrito um épico sobre a invasão da Grécia por Xerxes, e de acordo co

m outras tradições teria o autor de muitas tragédias (DL 8, 57).

A filosofia da natureza de Empédocles pode ser considerada, de certo ponto de vista, uma síntese do pensamento dos filósofos Jônicos. Como vimos, cada um deles havia escolhido certa substância como princípio básico ou dominante do universo: Tales havia privilegiad

Empédocles 01

o a água, Anaxímenes o ar, Xenófanes a terra e Heráclito o fogo. Para Empédocles, todas essas quatro substâncias mantinham-se em iguais condições como ingredientes fundamentais, ou “raízes”, como ele dizia, do universo. Essas raízes sempre existiram, ele declarava, mas elas se misturaram entre si em proporções variadas, de modo a produzir o desenho familiar do mundo assim como as coisas do céu.

 

Dessas quatro saiu tudo o que foi, é e sempre será:

Árvores, animais e seres humanos, machos e fêmeas todos,

Pássaros do ar e peixes gerados pela água brilhante;

Os envelhecidos deuses também, de há muito louvados nas alturas.

Estes quatro são tudo o que há, cada um se entranhando no outro

E, ao misturar-se, variedade ao mundo dando.

(KRS 355)

O que Empédocles denominava “raízes” era aquilo que Platão e pensadores gregos posteriores chamavamstoitheia, uma palavra utilizada para denominar as silabas de uma palavra. A tradução latina, elementum, da qual deriva nossa palavra “elemento”, compara as raízes não a silabas, mas às letras do alfabeto: um elemntum é um LMNto. Filósofos e cientistas atribuíram ao quarteto de elementos de Empédocles um papel fundamental na física e na química até o advento de Boyle, no século XVII. Na verdade, pode-se alegar que ele ainda permanece conosco, numa forma alterada. Empédocles pensava seus quatro elementos como quatro tipos diferentes de matéria; nós consideramos o sólido, o líquido e o gasoso os três estados da matéria. Gelo, água e vapor poderiam ser, para Empédocles, instancias específicas de terra, água e ar, enquanto para nós eles são três estados da mesma substância; H2O. Não é irracional pensar no fogo, e especialmente no fogo do sol, como um quarto elemento de igual importância. Alguém poderia dizer que o surgimento no século XX da ciência da física do plasma, que estuda as propriedades da matéria a temperaturas solares, recuperou a paridade do quarto elemento de Empédocles aos outros três.

 

Empédocles Elementos 01

Aristóteles louvava Empédocles por ter percebido que uma teoria do cosmos não poderia apenas identificar os elementos do universo, mas deveria atribuir causas para o desenvolvimento e a mistura dos elementos para formar os componentes vivos e inanimados do mundo real. Empédocles atribuiu esse papel ao Amor [Philia] e ao Ódio [Neikos]; O Amor combinando os elementos, e o Ódio separando-os. Em determinado momento as raízes crescem para ser uma entre muitas, em outra ocasião dividem-se para ser muitas a partir de uma. Estas coisas, ele afirmou, jamais cessam esse intercâmbio contínuo, unindo-se às vezes por força do Amor, separando-se depois umas das outras pela força do Ódio.

O Amor e o Ódio são os antepassados pitorescos das forças de atração e repulsão que figuraram na teoria da física através dos séculos. Para Empédocles, a história é um ciclo em que algumas vezes o Amor é dominante, e em outras é o Ódio. Sob a influência do Amor, os elementos se combinam em uma esfera homogênea [sphairos], harmoniosa e resplandecente, herdeira do univeso de Parmênides. Sob a influência do Ódio, os elementos separam, mas assim que o Amor começa a ganhar o território que havia perdido aparecem todas as diferentes espécies de seres vivos (KRS 360). Todos os seres compostos, como os  animais, as aves e os peixes, são criaturas temporárias que surgem e partem; somente os elementos são eternos, e somente o ciclo cósmico continua sempre.

Para explicar a origem das espécies vivas, Empédocles concebeu uma notável teoria da evolução a partir da sobrevivência do mais apto. No início, carne e osso surgiram como composições químicas de elementos, a carne sendo constituída de fogo, ar e água em partes iguais, o osso constituindo-se de duas partes de água, duas de terra e quatro de fogo. A partir desses constituintes, formaram-se membros e órgãos do corpo não unidos; olhos fora das cavidades, braços sem ombros e rostos sem pescoços (KRS 375-6). Estes órgãos vagaram por aí até encontrar pares ao acaso; fizeram uniões, que nessa primeira fase resultaram com freqüência não muito adequadas. Disso resultaram várias monstruosidades: homens com cabeça de boi, bois com cabeça de homem, criaturas andróginas com rostos e seios na frente e nas costas (KRS 379). A maioria desses organismos do acaso eram frágeis ou estéreis e somente as estruturas mais bem adaptadas sobreviveram para tornar-se o homem e as espécies animais que conhecemos. Sua capacidade de reproduzir foi algo devido ao acaso, não a um plano (Aristóteles, Fis. 2, 8, 198b29).

Aristóteles prestou tributo a Empédocles por ter sido o primeiro a notar o importante princípio biológico de que diferentes partes do organismos vivos não assemelhados podem possuir funções homologas, a saber, azeitonas e ovos, folhas e penas (Aristóteles, GA 1, 23, 731a4). Mas ele demonstrava desprezar a tentativa de Empédocles de reduzir a teleologia ao acaso, e por muitos séculos os biólogos nisso acompanharam Aristóteles e não Empédocles, o qual riu por último quando Darwin o saudou por “retirar das sombras o princípio da seleção natural”[i].

Empedocles

Empédocles empregou seu quarteto de elementos para oferecer uma explicação da senso-percepção, baseado no princípio de que o semelhante é reconhecido pelo semelhante. Em seu poema “Purificações” ele combinou sua teoria da matéria com a doutrina pitagórica da metempsicose. Os pecadores – sejam divinos ou humanos – são punidos quando o Ódio aprisiona suas almas em diferentes tipos de criaturas na terra e no mar. Um ciclo de reencarnação oferece a esperança de um eventual deificação para classes privilegiadas de homens: videntes, bardos, doutores e príncipes (KRS 409). Naturalmente, Empédocles alegava identificar-se com todas essas profissões.

Em sua escrita, Empédocles move-se erraticamente entre um estilo austeramente mecânico e um outro de caráter critico-religioso. Algumas vezes ele faz uso de nome divinos para seus quatro elementos (Zeus, Hera, Hades e Nestis) e identifica o seu Amor com a deusa Afrodite,  a quem ele homenageia em termos que antecipa a frente “Ode à alegria” de Schiller (KRS 349). Sem dúvida, sua afirmação da própria divindade pode ser reduzida da mesma maneira pela qual ele demitologiza os deuses Olímpicos, embora tenha sido o que chamou a atenção de seus pósteros, especialmente na lenda sobre sua morte.

Conta a história que uma mulher chamada Pantéia, declarada morta pelos médicos, foi milagrosamente restituída à vida por Empédocles. Para comemorar, ele ofereceu um banquete sacrificial a oitenta convidados na casa de um homem rico aos pés do Etna. Quando os outros convidados se recolheram para dormir, Empédocles ouviu chamaram seu nome dos céus. Ele dirigiu-se rapidamente ao cume do vulcão, quando então, nas palavras de Milton,

Para ser considerado

Um Deus, saltou imprudente nas chamas do Etna.

(Paraíso perdido, III, 470)

Matthew Arnold dramatizou essa história em seu Empédocles no Etna, em que faz o filósofo pronunciar estes versos à beira da cratera:

Este coração não mais brilhará; sua condição

Não mais será a de um homem vivo, Empédocles!

Nada senão uma consumidora chama de pensamento –

Mas mente nua somente, incansável na eternidade!

Para os elementos dos quais veio

Tudo irá retornar

Nossos corpos à terra,

Nosso sangue à água.

O calor ao fogo,

O fôlego ao ar.

Estes nasceram de fato, serão de fato enterrados –

Mas a mente?

(linhas 326-338)

Arnold concede ao filósofo, antes de seu mergulho final, a esperança de que, como recompensa por seu amor à verdade, sua mente jamais perecerá totalmente.

KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental. Volume I. Filosofia Antiga. Edições Loyola. pp.45-49

 


[i] Charles DARWIN, Apêndice à sexta edição de The Origin of Species, apud. A. GOTTLIEB, The Dream of Reason: A history of western philosophy frmo the greeks to the renaissance, London, Allen Lane, 2000, 80.

Anaximandro de Mileto

Anaximandro

É mais fácil aceitarmos a cosmologia do conterrâneo mais jovem de Tales, Anaximandro de Mileto ( c. 547 a. C.). Sabemos mais a respeito de seus pontos de vista porque ele deixou um livro intitulado “Sobre a natureza”, escrito em prosa, um estilo que apenas começava a se firmar. À semelhança de Tales, credita-se a ele uma série de feitos científicos originais: o primeiro mapa-mundi, a primeira carta-celeste, o primeiro relógio de sol grego e até mesmo um relógio caseiro. Ele ensinava que a Terra tinha forma cilíndrica, como um pedaço de coluna cuja altura era três vezes maior que sua largura. Em redor do mundo havia tubos gigantescos repletos de fogo, cada um deles com um buraco por ondeAnaximandro mapa-mundi se podia enxergar o fogo a partir do exterior, os buracos sendo o sol, a lua e as estrelas. Julgava que as obstruções nos buracos eram eclipses do sol e fases da lua. O fogo celestial, hoje totalmente oculto, foi em certa ocasião uma grande bola de fogo que circundava a terra em seu princípio. Quando essa bola explodiu, dos fragmentos cresceram os tubos com cascas de árvores em torno de si.

A Anaximadro impressionava muito a maneira como as árvores cresciam e como suas cascas se desprendiam. Ele empregou a mesma analogia para explicar a origem do seres humanos. Os outros animais, ele ressaltou, podem cuidar de si mesmo logo após o nascimento, mas os humanos necessitam de um aleitamento prolongado, e é por isso que o seres humanos não teriam sobrevivido se sua natureza tivesse sido sempre tal como ela é agora. Em um primeiro momento, conjecturou, os seres humanos passavam sua infância envoltos por uma casca espinhosa, de modo que se assemelhavam a peixes e viviam na água. Com a chegada da puberdade ele rompiam sua casaca e partiam em direção à terra seca, para um ambiente em que poderiam cuidar de si próprios. Era por isso que Anaximandro, embora não fosse vegetariano, recomendava que evitássemos comer peixe, pois estes eram os antepassados da raça humana (KRS 133-7).

A cosmologia de Anaximandro é variadamente mais elaborada que a de Tales. Para começar, ele não busca algo que sustente a Terra: ela permanece onde está devido à sua eqüidistância de tudo o mais e não há razão pela qual ela devesse s mover para qualquer direção específica em vez de para uma outra (DK 12 A11; Aristóteles, Cael. II, 13, 295b10).

Depois, ele julga ser um erro relacionar o elemento primeiro do universo com quaisquer dos elementos que podemos ver a nosso redor no mundo atual, como a água e o fogo. O princípio fundamental das coisas, ele afirma, deve ser ilimitado ou indefinido (apeíron). O termo grego utilizado por Anaximandro é normalmente traduzido como “ o Infinito”, mas isso o faz soar muito grande. Ele pode ou não ter julgado que seu princípio se estendia para sempre no espaço, mas o que sabemos é que ele pensava que este não tinha nem começo nem fim no tempo e que não pertencia a nenhum tipo ou classe particular de coisas. “Matéria eterna” seria provavelmente a paráfrase mais aproximada que poderíamos almejar. Aristóteles iria posteriormente refinar a noção em seu conceito de matéria-prima.

Por fim, Anaximandro oferece um relato da origem do mundo atual, e explica quais forças agiram para trazê-lo à existência, investigando, como diria Aristóteles, tanto a causa eficiente como a material. Ele via o universo como um campo de contrários em competição: quente e frio, úmido e seco. Algumas vezes um desses pares de opostos é dominante, outras vezes o outro; eles avançam um sobre o outro e depois recuam, intercâmbio que é governado pelo princípio da reciprocidade. Como definido de forma poética por Anaximandro em seu último fragmento preservado, “eles concedem justiça e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo” (DK 12 B1). Assim, pode-se alegar, no inverno o quente e o seco oferecem compensação ao frio e ao úmido pela agressão que cometeram no verão. O calor e o frio foram os primeiros contrários a surgir, separando-se de um ovo cósmico primevo contendo algo indeterminado e eterno. A partir deles se desenvolveram o fogo e a terra, que, como vimos, estavam na origem de nosso presente cosmos.

KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental. Volume I. Filosofia Antiga. Edições Loyola. PP. 29-32

Análise Da Estrutura Lógica Do Texto Fédon De Platão

Por: André Luíz Avelino

1 – Argumento à imortalidade da alma: teoria dos contrários.

P1 – Se é verdade que as almas dos que morrem estão ou não no Hades (o invisível) e se regressam a este mundo para renascerem dos mortos, devemos pensar que as almas existem no além. Elas não poderiam renascer se não existissem. (XV)

P2 – Todas as coisas contrárias nascem das que lhes são contrárias: o belo nasce do feio, o justo do injusto, o fraco do mais forte, o pior do melhor. (XV)

P3 – Viver tem um contrário, assim como o contrário de acordado é o contrário de dormir. Se existisse o dormir e não lhe correspondesse o acordar parece que tudo estaria mergulhado no sono. Do mesmo modo que se tudo quanto participa da vida morresse e se conservasse depois na morte, nada existiria com vida. (XVI)

P4 – Estar morto é o contrário de viver e estes estados se originam um do outro. O que está morto nasce, então, do que está vivo. Os vivos nascem dos mortos e estes dos vivos. (XVI)

C1 –  Então, é verdade que a alma dos que morrem estão no Hades e regressam a este mundo para renascerem dos mortos, devemos pensar que as almas existem no além. Elas não poderiam renascer se não existissem. Podemos concluir que as almas dos mortos subsistem. (XVI)

2 – Argumento à pré-existência da alma: teoria das reminiscências.

P1 – Para que alguém se lembre de alguma coisa, é indispensável que a tivesse sabido no passado. A sabedoria é reminiscência quando se produz em nós de um modo determinado. Reminiscência é o fato de alguém se recordar de alguma coisa quando está em presença de outra. A reminiscência procede não só de coisas semelhantes, mas até das dessemelhantes. (XIX)

P2 – O conceito de igualdade é diferente da igualdade existente entre os objetos, o que significa existência da igualdade em sí. Os objetos iguais, ainda que sua igualdade seja diferente da igualdade em si, permitem-nos conceber a idéia e o seu conhecimento, e isto só é possível pela reminiscência. Quando se vê uma coisa, é-se obrigado a pensar noutra, quer seja igual, quer seja diferente, o que se produz é, necessariamente, uma reminiscência. (XIX)

P3 – Alguém, ao ver uma coisa, pensa que aquilo que vê aspira a ser igual a outro objeto, sendo, no entanto, inferior a ele. Podemos concluir que é necessário ter-se visto já o objeto que serve de modelo. É preciso que tenhamos visto a igualdade num tempo anterior àquele em que vemos um objeto para que possamos dizer que há semelhança entre eles. (XIX)

P4 – Está reflexão (da reminiscência) só é possível porque se origina nos orgãos sensoriais, mas antes de nos servirmos dos sentidos, é necessário que tenhamos adquirido o conhecimento da igualdade em si para, com ela, podermos comparar as igualdade percebidas pelos sentidos. (XIX)

P5 – Quando nascemos começamos a utilizar os orgãos sensoriais, no entanto, foi necessário ter adquirido o conhecimento do igual em si, e é forçoso concluir que tenhamos adquirido antes do nascimento. (XIX)

P6 – Se nascemos com este conhecimento, podemos admitir que toda a realidade pura nasce conosco, quer trate do belo, do bom ou do justo e de todas as essências deste gênero. (XIX)

P7 – Certamente nossas almas não adquirem o conhecimento das essências depois do nascimento, pois há identidade das nossas almas com as essências (vide argumento à natureza da alma). Significa que as almas existiam separadas dos corpos e aptas a pensarem antes de revestirem forma humana. (XIX)

C2 – Se todas as essências existêm em nós (o argumento demostra que existe), é forçoso concluir que também as nossas almas existem antes de nascermos, porque é tão necessária a existência das essências como das nossas almas. A não existência das primeiras implica a não existência das segundas. (XXII)

3 – Argumento à natureza da alma: simplicidade da alma e sua identidade com os objetos ideais.

P1 – Só perece o que é composto, o que sempre permanece isento de composição. Ora, as essências, tal como o belo em si e toda a qualidade pura, não sofrem alterações, são uniformes. Tudo que é particular e visível só pelos sentidos é apreensível, nunca permanece na identidade, está submetido à mudança. (XXV)

P2 – A alma, quando se serve do corpo para examinar alguma coisa é arrastada para a relatividade, mas quando se dirige para o que é puro, eterno e imortal, permanece sempre a mesma e igual àquilo que contempla e é a isso que se chama conhecimento. (XXVII)

P3 – A alma é semelhante ao divino, é imortal, inteligível, uniforme, indissolúvel. O corpo decompõe-se porque é composto, e a alma permanece. (XXVIII)

C3 – Pode afirmar-se que o que permanece sempre idêntico, o que é invisível, não pode ser apreendido pelos sentidos, mas só pelo pensamento. O corpo indentifica-se com o visível e a alma com o invisível. (XXVIII – Conclusão implícita)

4 – Argumento à imortalidade da alma e natureza da alma: desenvolvimento à teoria dos contrários.

P1 – Os contrários não podem subsistir simultaneamente, a grandeza em sí não consente ser grande e pequena ao mesmo tempo. O que agora se afirma não colide com o que se demostrou no primeito argumento dos contrários, isto é, que o maior nasce do mais pequeno e este do maior e que a verdadeira origem dos contrários são os seus contrários. (LI)

P2 – Afirmar que de uma coisa contrária nasce outra contrária é diferente de afirmar que o próprio contrário não pode ser contrário de si mesmo, quer no homem quer na natureza. O corpo humano passa da vida à morte, mas isso não significa que a vida como essência se torne no seu contrário, ou seja, na morte. (LI)

P3 – A natureza do ser quente nunca se transformou na natureza do ser frio, o dia nunca se transforma na noite, a natureza da vida na natureza da morte e a do par na do ímpar. (LII)

P4 – Cada um dos contrários permanece sempre exatamente o que é. (LIII)

P5 – Quando a morte se aproxima do homem, morre só o que nele há de mortal, o imortal permanece ileso à destruição. (LV)

C4 – A essência da alma é ser vida e exclui o seu contrário que é morte. A alma identifica com as essências imortais, as idéias, é da mesma natureza, logo é imortal e indestrutível. (LVI)

CONCLUSÃO GERAL ESTRUTURAL LÓGICA

PC1 –  Então, é verdade que a alma dos que morrem estão no Hades e regressam a este mundo para renascerem dos mortos, devemos pensar que as almas existem no além. Elas não poderiam renascer se não existissem. Podemos concluir que as almas dos mortos subsistem.

PC2 – Se todas as essências existêm em nós (o argumento demostra que existe), é forçoso concluir que também as nossas almas existem antes de nascermos, porque é tão necessário a existência das essências como das nossas almas. A não existência das primeiras implica a não existência das segundas.

PC3 – Pode afirmar-se que o que permanece sempre idêntico, o que é invisível, não pode ser apreendido pelos sentidos, mas só pelo pensamento. O corpo indentifica-se com o visível e a alma com o invisível.

PC4 – A essência da alma é ser vida e exclui o seu contrário que é morte. A alma identifica com as essências imortais, as idéias, é da mesma natureza, logo é imortal e indestrutível.

CGERAL- Essencialmente a alma consiste em ser vida e exclui a morte que é o contrário de vida (PC1); A alma é imortal e participa do imortal que é imperecível, portanto, a alma é imortal e imperecível (PC2); A alma é imortal porque é da mesma natureza das idéias, que são eternas (PC3); A impericibilidade da alma é deduzida  da sua essência, porque o conceito de alma exclui intrinsecamente, o atributo mortal (PC4); Portanto, a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas, e para poder conhecer coisas imutáveis e eternas, ela dever possuir uma natureza dotada de afinidade com essas coisas. Caso contrário estas coisas ultrapassam as capacidades da alma. Conseqüentemente, como as coisas que a alma conhece são imutáveis e eternas, a alma também precisa ser eterna e imutável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PLATÃO. Fedão, Versão eletrônica. Trad. Carlos Alberto Nunes. Créditos da digitalização: Membros do grupo Acrópolis (Filosofia). Disponível em:< http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/fedon.pdf>

Rousseau e o Homem Moral

I) O homem moral

1) Amoralismo integral: o homem não [e então nem bom nem mau, ignora tanto as virtudes quantos os vícios. O estado de natureza é mais vantajoso para ele e lhe proporciona mais felicidade do que o estado social.

2) O primeiro princípio da moral natural: o instinto de conservação de si mesmo. O erro de Hobbes, nesse ponto, consiste em ter acreditado que, para conservar-se a si mesmo, impunha-se lutar contra os outros e matá-los ou torná-los seus escravos. Ora, a ausência da bondade não implica maldade. O direito sobre as coisas de que tem necessidade não leva o homem natural a um domínio universal. Pode-se muito bem zelar pela própria conservação sem prejudicar a de outrem. O erro de Hobbes deve-se a ter levado em consideração necessidades tardias para julgar o estado original do homem. Ora, o homem primitivo não poderia ser mai, uma vez que não sabia o que era bom e mau.

3) O segundo princípio da moral natural: a piedade.

O homem é naturalmente indulgente; a piedade é um movimento da natureza, anterior a qualquer reflexão. A prova disso pode ser encontrada no instinto maternal, nos animais e, até, nos tiranos mais cruéis, que, naturalmente, sentiam piedade pelos males que não tinham causado.

O erro de Mandeville reside em ter pensado que a piedade é uma virtude social. Ora, a piedade é mais forte no estado de natureza, onde nos identificamos espontaneamente com os infelizes, do que no estado social, no qual nos dirigimos pela reflexão. A piedade espontânea do povo, e até da canalha, é superior ao filósofo. A primeira inspira a máxima natural: “Alcança o teu bem, causando o menor mal possível a outrem”. A segunda produz a máxima razoável: “Faze a outrem o que querer que te façam”. A vantagem do segundo princípio – a piedade – é que ele equilibra o primeiro – a conservação de si mesmo – e o compensa.

4) As paixões: São mais violentas no estado de natureza. A paixão pela alimentação pode ser facilmente satisfeita e, quando isso se dá, extingue-se. A mesma coisa acontece com o mar. Tem-se de distinguir, no amor, o moral que é fictício, nascido da sociedade, inventando pelas mulheres, e o físico, que é natural: “Qualquer mulher lhe serve”. Comprovam-no, de um lado, os costumes dos selvagens, a exemplo dos caraíbas, e, de outro, os animais: os combates entre os machos só existem onde as fêmeas são menos numerosas. Ora, existem mais mulheres do que homens.

ROUSSEAU. Os Pensadores. Editora Nova Cultura. 1999. pp. 16-7

“A cidade tem precedência por natureza sobre o indivíduo” – Aristóteles

Para Aristóteles a cidade existe naturalmente, sendo ela o estágio final das demais comunidades, segundo Aristóteles:

“Toda cidade, portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa é o seu estágio final, porquanto o que cada coisa é quando o seu crescimento se completa nós chamamos de natureza de cada coisa, quer falemos de um homem, de um cavalo ou de uma família. Mais ainda: o objetivo para o qual cada coisa foi criada – sua finalidade – é o que há de melhor para ela, e a auto-suficiência é uma finalidade e o que há de melhor.” (Política, I, 1253b, 15)

A cidade sendo o fim das demais comunidades, Giovane Reale afirma:

“O bem do indivíduo é da mesma natureza que o bem da cidade, mas este “é mais belo e mais divino” porque se amplia da dimensão do privado para a dimensão do social, para a qual o homem grego era particularmente sensível, porquanto concebia o indivíduo em função da cidade.” (REALE e ANTISERI 1990, 208)

Assim sendo, o homem só conseguirá realizar suas potencias dentro da cidade, Aristóteles afirma que:

“É claro, portanto, que a cidade tem precedência por natureza sobre o indivíduo. De fato, se cada indivíduo isoladamente não é auto-suficiente, conseqüentemente em relação à cidade ele é como as outras partes em relação a seu todo, e um homem incapaz de integrar-se numa comunidade, ou que seja auto-suficiente a ponto de não ter necessidade de fazê-lo, não é parte de uma cidade, por ser um animal selvagem ou um deus. Existe naturalmente em todos os homens o impulso pra participar de tal comunidade, e o homem que pela primeira vez uniu os indivíduos assim foi o maior dos benfeitores.” (Política, I, 1253b, 15-6)

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Embora, em parte, remodelação do famoso Tratado da Natureza Humana, este ensaio aborda de modo autónomo e brilhante, a questão dos limites do conhecer e o tema de uma ciência do homem enquanto base de todos os ramos do saber. As páginas da Investigação sobre o entendimento humano’ que, na sua maior parte, giram em torno do problema da causalidade e dele apresentam uma solução fenomista; apresentam com claridade e elegância as linhas centrais do pensamento de Hume.

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