Anaxímenes de Mileto

 Anaximenes 01

Anaxímenes, cujo apogeu se deu entre 546 e 525 a.C., mas novo que Anaximandro em uma geração, foi o último do trio de cosmologistas milésios, e de vários modos ele é mais próximo de Tales que Anaximandro, mas seria um erro considerar que com ele a ciência teria regredido em vez de avançar. À semelhança de Tales, Anaxímenes pensava que a Terra deveria repousar sobre algo, mas ele sugeriu o ar, e não a água, como seu colchão. A Terra é plana, e planos são também os copos celestes. Estes, em vez de circularem abaixo e acima de nós durante o período de um dia, circulam horizontalmente em torno de nós, como um capacete girando em torno de uma cabeça (KRS 151-6). O nascer e o pôr dos corpos celestes é aparentemente explicado pelo ângulo formado com a Terra plana. Quando ao princípio de tudo,  Anaxímenes considerava a matéria infinita um conceito muito vago e optou, à semelhança de Tales, por considerar fundamental apenas um dos elementos existentes, e de novo escolheu o ar em vez da água.

Em seu estado estável o ar é invisível, mas quando é movido e condensado ele primeiro se torna vento, em seguida nuvem, depois água e, finalmente, a água condensada se torna lama e pedra. O ar rarefeito torna-se fogo, completando assim a escala dos elementos. Desse modo,  a rarefação e a condensação podem conjurar tudo a partir do ar existente (KRS 140-1). Para sustentar essa afirmação, Anaxímenes apelou para a experiência, na verdade para um experimento – um experimento que o leitor pode facilmente realizar por si mesmo. Sopre em sua mão, primeiro com seus lábios cerrados, depois com a boca aberta: da primeira vez o ar será sentido frio, da segunda será quente. Isso, argumentou Anaxímenes, demonstra a conexão entre a densidade e a temperatura.

O experimento e a percepção de que mudanças de qualidade estão relacionadas a mudança de quantidade definem Anaxímenes como um cientista em potencial. Somente em potencial, no entanto, pois ele não tem os meios para medir as quantidades que invoca, ele não concebe equações que as relacionem, e seu princípio fundamental contém propriedades míticas e religiosas. O ar é divino, e gera divindades a partir de si (KRS 144-6); o ar é nossa alma e é o que mantém nossos corpos unidos (KRS 160).

Os milésios não são portanto físicos de fato, mas também não são construtores de mitos.  Eles não abandonaram os mitos, mas estnao se distanciando deles. Ainda não são verdadeiramente filósofos, a não ser que por “filosofia” se queira dizer apenas ciência em sua infância. Eles fazem pouco uso da análise conceitual e do argumento a priori, que tem sido a ferramenta dos filósofos desde Platão até o presente. Eles são especuladores, e em suas especulações se misturam elementos de filosofia, ciência e religião em uma rica e borbulhante poção.

KENNY, Anthony. Uma Nova História da Filosofia Ocidental. Volume I. Filosofia Antiga. Edições Loyola. PP. 32-33